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Sob os olhos de um oriundo-jornalista, 10 dias em território italiano, cruzando importantes cidades de diferentes regiões (Lazio, Umbria, Emilia-Romagna, Toscana, Veneto e Lombardia), foram suficientes para confirmar o que diariamente a leitura atenta e reflexiva, via Internet (jornais, noticiário online em tempo real, talk shows), já revelava: o cidadão italiano está completamente desiludido com a política do seu país.
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Sob os olhos de um oriundo-jornalista, 10 dias em território italiano, cruzando importantes cidades de diferentes regiões (Lazio, Umbria, Emilia-Romagna, Toscana, Veneto e Lombardia), foram suficientes para confirmar o que diariamente a leitura atenta e reflexiva, via Internet (jornais, noticiário online em tempo real, talk shows), já revelava: o cidadão italiano está completamente desiludido com a política do seu país.
Nas cidades que visitei num circuito religioso e cultual, conversei com muitas pessoas: estudantes, jovens recém-formados, taxistas, recepcionistas de hotel, proprietários de restaurantes, cafés, lojas de vestuário e de souvenir, além de “nonne e nonni” aposentados. Gente simples que ao responder à pergunta, “O que dizer de Renzi?” invariavelmente respondia “Melhor deixar para lá”.
No entanto, o jornalista insistia.”Mas não estamos falando do jovem e simpático rottamatore, que prometeu fazer a Itália girar 180 graus?” O taxista responde. “Esperar o que de alguém que na oposição tanto criticou Berlusconi e que agora governa para salvar Silvio?”.
Um jovem engenheiro romano que acabara de sair da cerimônia de “laurea”, dizia, quando perguntado sobre o futuro profissional “O mercado? Talvez no Brasil. o que você acha?”, indagava em sua juventude desiludida com o presente italiano.
Na santificada e abençoada Assis, o diálogo foi com um jovem de 25 anos, no comando de um pequeno negócio gastronômico (doces e sorvetes). “Acreditar na política? Nunca. Apenas promessas que não são cumpridas”. Continuando a conversar, quis saber como andavam as coisas neste inverno em relação ao inverno passado. “O movimento de turistas caiu pela metade. Ainda bem que existem vocês brasileiros e os orientais que gastam bem”. Morando com a “mamma” e contando que seu pai morreu anos atrás, o empresário tinha um olhar melancólico ao falar do futuro. “Não fui à Universidade. Custa caro. Não vale a pena gastar tanto dinheiro com a Universidade se não há mais mercado de trabalho neste país?”
Na terra de Dante, dos Medici e de Matteo I, il Rottamatore, o frio de um dia nublado entrava em contraste com a alta temperatura do discurso de um estudante. “Renzi, Berlusconi, Alfano? Todos para casa. Vaffa…” Todos?, perguntei, imaginando que Beppe Grillo seria poupado. “Sim todos, não se salva ninguém, nem mesmo Grillo”. Caminhei então rumo á casa do grande poeta com a nítida impressão que toda a política italiana pode ser lida a partir das páginas do Inferno dantesco.
A autoestrada indica: aqui termina a Toscana. Bem-vindo à Emilia. Bandiera rossa? Descoloriu. Trionferá? Um sonho cada vez mais distante. No centro de Bologna, numa noite de sábado muito movimentada, pergunto a um “nonno”: “Avanti popolo?”. Após relembrar os anos 70 e 80 ele fala de uma Itália com o PD no governo. “O capitalismo venceu de novo. Não há mais trabalho. Não há respeito pelos aposentados. O sindicalismo está morto. Renzi é um traidor”. Mas e a carteirinha do PD está no bolso? “Deixei em casa. Já pensei em rasgá-la. Meu filho não deixou. Ele me disse, com razão, que Renzi não é o partido. O PD é muito mais que Renzi”.
Por fim o Norte. “Mas afinal, qual Matteo?”, pergunto ao proprietário de um restaurante veneziano “Nenhum dos dois”, foi a resposta. Na Padania, nem mesmo Salvini se salva. Por último, Milão, na loja de aluguel de carro, horas antes do voo de volta para o Brasil, fui testemunha do desprezo de um lombardo pelo mundo político. “Renzi? Políticos? Bah!!! Vamos conversar sobre outro assunto. Como é o carnaval no Rio?”.
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::autore_::de Eduardo Fiora::/autore_:: ::cck::390::/cck::