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Da noite da sexta-feira, 13 e em várias cidades até a manhã da quarta-feira, 18, já no tempo cristão das Cinzas – o que sempre levanta protestos por parte do clero
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Da noite da sexta-feira, 13 e em várias cidades até a manhã da quarta-feira, 18, já no tempo cristão das Cinzas – o que sempre levanta protestos por parte do clero – milhões de brasileiros deixaram lado dúvidas, dívidas, angústias, preocupações, mal humor, e revolta e se entregaram à fantasia e sonhos do Carnaval.
Mas terminada a grande festa popular, é hora de voltar à realidade e viver dias de dificuldades no plano econômico (inflação em alta, contas públicas no vermelho) e de muita expectativa no mundo da política, afinal o Ministério Público deve divulgar até o final deste mês o nome dos políticos envolvidos na gigantesca “Tangentopoli Tropicale”, conhecida como Petrolão, um escândalo de desvio de dinheiro de obras licitadas pela Petróleo Brasileiro S.A (Petrobas), a maior empresa pública brasileira cujas ações também circulam também pela Bolsa de Nova York.
Se a democracia no Brasil seguisse preceitos constitucionais como aqueles dos Estados Unidos, por exemplo, o impeachment da presidente Dilma seria fato consumado. Entre 2004 e 2012 a Diretoria de Abastecimento da Petrobras realizou investimentos da ordem de 37 bilhões de euros. Desse total 3% (1, 1 bilhão de euros) teriam sido desviados por megagrupos vencedores de licitações para os cofres de partidos políticos entre eles o PT (partido da presidente Dilma Rousseff e do seu antecessor Lula da Silva) e o PMDB (partido do vice-presidente da República, Michel Temer).
Com base no depoimentos dos empresários e agentes da lavagem da propina que foram presos e aceitaram contar o que sabiam em troca de uma pena menor, o procurador geral da República, Rodrigo Janot, oferecerá denúncia a vários políticos, alguns deles ligados intimamente ao governo “della Rousseff”.
Mas, como no caso italiano da Tangentopoli, é bem provável que pouca coisa mude no “status quo” da política nacional, mais propensa a adotar a velha máxima eternizada no romance “Il Gattopardo”, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa. “Tudo deve mudar de modo a permanecer como está”.
Um dos maiores poetas da música popular brasileira, Paulo Cesar Pinheiro, ao falar de sua brilhante carreira assim se expressa: “Acontecem coisas estranhas comigo desde quando comecei a compor, ainda menino. Vejo pessoas, vultos, sombras. Escuto passos, palavras cantos. (…) Minha poesia é cantada e citada como reza, filosofia, provérbio, em inúmeras religiões, seitas e rituais Brasil afora. E eu vou seguindo, hoje, mentalmente, mais sereno”.
Uma dessas magníficas canções é Forças da Natureza. O texto descreve um verdadeiro apocalipse ao avesso afirmando que um bom sinal surgirá em dois momentos: Primeiramente, “quando o sol, desafiando poder da ciência, se derramar em toda sua essência para combater o mal”. Depois, “quando o mar com suas águas bravias, levar consigo o pó dos nossos dias”. Nesse momento, “os palácios irão desabar sob a força de um temporal e os ventos irão sufocar o barulho infernal”.
Mas em meio ao caos, o homem ainda encontra forças para “se se rebelar dessa farsa descomunal. Vai voltar tudo ao seu lugar, afinal”. Do céu cairá uma chuva de prata e “o esplendor da mata vai renascer. O ar de novo vai ser natural. Vai florir. Cada grande cidade o mato vai cobrir. Das ruínas um novo povo vai surgir e cantar. As pragas e as ervas daninhas. As armas e os homens de mal. Vão desaparecer nas cinzas de um carnaval”.
Uma reflexão filosófica sobre a poesia de Paulo Cesar Pinheiro e do romance Lampedusa parece querer unir os cidadãos comuns; gente simples e honesta; gente do bem tanto no Brasil quanto na Itália. É preciso agir de maneira absolutamente antigattopardesca, ou seja, lutar para que tudo de fato mude, transformando em cinzas não a vida humana, mas as pragas que provocam injustiças, sobretudo as ervas daninhas da corrupção.
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::autore_::de Eduardo Fiora::/autore_:: ::cck::430::/cck::