::cck::519::/cck::
::introtext::
São Paulo (Brasil). Dias de tensão e apreensão no Palácio do Planalto, imponente edifício em Brasília, a capital do Brasil.
::/introtext::
::fulltext::
São Paulo (Brasil). Dias de tensão e apreensão no Palácio do Planalto, imponente edifício em Brasília, a capital do Brasil.
Dentro e fora do gabinete da presidente Dilma Roussef o assunto é um só: as grandes manifestações populares marcadas para o domingo, 15, nas principais cidades do país, contra uma série de coisas, desde a corrupção generalizada no seio da “res publica”, passando por protestos em relação ao precários sistemas de saúde e de educação, alta da inflação e juros altíssimos, até chegar ao alvo principal, ou seja a própria presidente.
As manifestações de 15 de março, 2 milhões de brasileiros saíram às ruas para protestar contra tudo isso. Boa parte dos manifestantes, com pulmão cheio, gritava com convicção: “Fora Dilma” e exigiam uma resposta à altura do sentimento de indignação nacional frente ao maior escândalo de desvio de dinheiro público com objetivo de financiar o partido de Dilma e do seu antecessor, Lula da Silva: o PT (Partido dos Trabalhadores) e outros partidos aliados.
De acordo com a Procuradoria Geral da República, um esquema envolvendo a maior empresa estatal brasileira, a petrolífera Petrobras, três partidos (PT, PP e PMDB) e empresas vencedoras de licitações públicas, drenaram a fabulosa quantia de R$ 21 Bilhões (cerca de 7 bilhões de Euros). Empresários, agentes que intermediaram as negociações e homens de confiança dos partidos, entre eles o tesoureiro do PT estão presos aguardando o prosseguimento das investigações.
A resposta que Dilma deu à Nação após os protestos de março foi considerada tímida: um pacote de medidas anticorrupção que na verdade recriaram a iniciativa de seu antecessor que igualmente teve que lidar com as repercussões e conseqüência de um primeiro grande esquema de corrupção e financiamento ilícito de partidos, onde o grande beneficiário igualmente foi o PT.
Lula da Silva superou o escândalo, conseguiu se reeleger e fez de Dilma sua sucessora. Tudo isso aconteceu sob as bênçãos de uma economia nacional que seguia de vento em popa, com inflação controlada e contas públicas razoavelmente controladas. Lula, hábil negociador político, manteve coesa a sua base de sustentação na Câmara dos Deputados e no Senado.
Dilma agora enfrente o tsunami das ruas em situação dramaticamente frágil. A crise econômica é grave: Produto Interno Bruto em 2014 com crescimento nanico (+0,1%); inflação nos últimos chegando a 8%, contas públicas descontroladas. A crise política atinge com força o governo: base de apoio dividida, presidentes da Câmara e do Senado, ambos pertencentes ao maior partido de sustentação de Dilma, o PMDB, acusados de envolvimento no escândalo da Petrobras.
Mas o leitor estrangeiro poderia então perguntar: e a oposição não ganha com essa crise? A resposta é não. No Brasil de hoje descrédito na política é tamanho, que as manifestações estão sendo organizadas pela sociedade civil, que dispensou qualquer apoio político ou mesmo sindical.
Esse vazio institucional é preocupante, pois ainda não se inventou um sistema democrático que possa prescindir dos partidos políticos. Quando isso aconteceu tanto na Itália quanto no Brasil, as conseqüências foram trágicas. Nossos países mergulharam numa longa e tenebrosa noite que durou, em ambos os casos, mais de vinte anos, sendo que até hoje pagamos caro por isso.
::/fulltext::
::autore_::de Eduardo Fiora::/autore_:: ::cck::519::/cck::